Concentração de frustrações




Toda submissão é estruturada pelo medo, pela omissão. As extensões desse processo tonalizam incapacidades representadas por inveja, por exemplo. Desejar ser o outro, ou ter o que o outro tem, é, para o submisso, uma carga excessiva. Pontualizado pela sua submissão, tendo sido, ao longo da vida, reduzido a posicionamentos expectantes e autorreferenciados, qualquer situação além dele próprio é extenuante. Neste sentido é fácil entender como a inveja é vivenciada como aquilo que mata. Não ter conseguido o que o outro conseguiu estabelece uma concentração de frustrações e decepções que são disfarçadas e engolidas. Ser o outro, invejá-lo é uma maneira de ressuscitar, e esse nascer de novo é redentor. Todas as vivências e desejos de transformação ilustram esse drenar da não aceitação. Invejar é desejar ser o que não se é. Paradoxo e impasse absolutos. Como ser quando não se é? Exatamente aí, nesse pântano, cresce a inveja. Este alguma coisa, já não é o diferente, é alguma coisa, é o ser algo, ser alguém. Os desejos estruturantes da inveja, quando não realizados, são matéria-prima para a vingança. Trolagem, hoje em dia nas redes sociais, é um exemplo desse processo. Destruir o que não se conseguiu, vingar-se, é uma forma de afirmação, de realização. Sacrifícios sobre-humanos, provocar a própria morte, é, às vezes, uma maneira de se vingar, de cobrar tudo que lhe foi negado, de tentar recuperar o que foi tomado, o suposto merecido que não lhe foi dado.



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