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Mostrando postagens de dezembro, 2016

Dados relacionais

O encontro, a percepção do outro e das situações enquanto elas próprias estabelecem os referenciais, os contextos do comportamento humano. Caso os problemas, as angústias, os medos e os desejos se interponham nestes referenciais, começam a surgir distorções, problemas gerados pelos posicionamentos autorreferenciados. O encontro é, então, transformado em objeto que impede ou facilita a consecução de objetivos, e assim, o outro é esmagado seja como objeto retirado, seja como apoio facilitador. Este processo autorreferenciado transforma os dados relacionais em resultantes do que se quer vivenciar, do que se quer atingir, pouco significando enquanto realidade vivenciada. Sem diálogo com o que ocorre, com o presente, começam a existir verificações atordoantes, tanto quanto merecedoras de posições balizadas por sucesso ou fracasso. O indivíduo se transforma em um sistema de convergência, e também em um sistema divergente ao se afastar do que não interessa a seus propósitos. Tudo que ocor

Viver - sentido, obrigação e resultados

Atualmente quase não se coloca a questão do sentido da vida, ou quando isto é feito sempre o é na direção de justificativas, de resgate ou desespero que ocorrem quando tudo desaba, quando as ilusões estão perdidas e os sonhos desaparecem. Conhecer a si mesmo, saber o que significa estar no mundo com os outros, descobrir e atingir o absoluto - Deus -, são diversos sentidos que podem ser dados à existência. Os problemas, as dificuldades, a destruição começam a se estruturar quando o sentido da vida é transformado em justificativa da existência ou em finalidade da mesma. Posicionar-se em porque ou para que faz perder o processo, o como da existência, do estar no mundo, do presente, e consequentemente, da transitoriedade e impermanência, únicos constituintes que permitem permanecer inteiro, apto e capaz de acompanhar o sentido, o ritmo, os processos do estar-aqui-e-agora-com-o-outro(s)-no-mundo. Fazer frente aos compromissos, atender obrigações necessárias à sobrevivência criam impas

Crianças desobedientes

Conviver com o filho desobediente que congestiona o dia a dia é uma situação difícil, desagradável. É um obstáculo, gera frustração, decepciona, é um problema. Sempre que se precisa resolver situações problemáticas, se estabelece níveis de soluções satisfatórias, se lista o que é necessário mudar, o que é necessário resolver e poucas vezes surgem questionamentos acerca de por que esta criança, por exemplo, por que o filho, está assim. Esta segunda pergunta muda o contexto de percepção dos distúrbios causados pela criança, mostra que muito do que atropela e desagrada é causado por outras questões. Neste momento abrem-se maiores perspectivas de mudança, pois a criança é vítima, além de agente das dificuldades. Existe nela condições de se comportar diferente, desde que muitas frustrações e rejeições sofridas devem ser consideradas, devem ser resolvidas. O psicoterapeuta é importante para mostrar estes novos aspectos, para fazer entender, por exemplo, que a criança está sendo “bode expia

Sonho e mentiras

É frequente ouvir: “viva seu sonho, não desista dele” . Esta auto-ajuda televisiva e, infelizmente, até mesmo ouvida em aconselhamentos psicológicos, é destruidora, é como colocar “a cenoura na testa” do cavalo, para que ele não ceda ao extenuamento muscular que sofre. Sonhar é ir além da própria realidade, é viver em um tempo diferente do presente, é deixar para depois o que se precisa e quer. Isto cria seres amealhadores, avaliadores irredutíveis, determinados em conseguir o que precisam para realizar seus sonhos, não importa como. Todo sonho se realiza, basta dormir; em outras palavras, a questão não é atingir o pote no final do arco-íris, a questão é ter o pote à mão. Viver em função de um sonho, do que se deseja ou se quer realizar, é unilateralizar a vida, é, por exemplo, transformar o outro em ponte, objeto, alavanca, é candidatar-se à solidão. Neste contexto, tudo que se deseja, que se consegue ou realiza, implica em trabalho, esforço e sacrifício, que quando atingidos

Motivação pontualizada

A maior parte das teorias psicológicas entende motivação como intrínseca ao organismo humano: nossas necessidades primárias - sexo, sono, fome, sede - são drives responsáveis pelo comportamento (na visão dos behavioristas), são os motivantes da conduta. Na psicanálise, estas necessidades primárias foram entendidas como demandas instintivas, vindo daí a motivação para o comportamento. Para os gestaltistas, a motivação é externa ao organismo, portanto, não existem ‘motivações inconscientes’, não existe orgânico, mental, inconsciente como determinantes do comportamento. “Entendo que o ser humano está sempre motivado pois sua vida é relacional. Para mim perceber é relacionar-se, então entender motivação é entender o processo relacional do ser humano no mundo. É o estar no mundo, ser é ser (estar) motivado, em última análise. Como explicar, dentro dessa conceituação, as abulias, as depressões, as apatias, o isolamento, a recusa à participação? Se o ser humano está sempre em um proces