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Mostrando postagens de junho, 2016

Artimanhas

Vencer obstáculos é enfrentar dificuldades. Nem sempre esta obviedade é realizada: medo, preguiça, oportunismo, “queimar etapas” para mais rápido atingir o que se deseja, se interpõem para neutralizar dificuldades e aproximar resultados. É uma contravenção, uma interrupção do processo responsável por criação de novos contextos enfraquecedores de obstáculos. Este arranjo cria variáveis diluidoras. As dificuldades, os problemas são escondidos, metamorfoseados. As vitórias ou fracassos não mais se referem aos obstáculos e sim aos resultados propiciados pelo disfarce dos mesmos, ou seja, se referem aos suportes, imaginados, solucionadores ou problematizadores. Em lugar de vitoriosos ao enfrentar dificuldades, surgem arregimentadores de contradições que possam escamotear dificuldades. É o jogo. Tudo se desenvolve neste contexto de estratégias que orientam ou engrandecem problemas em função de interesses, comprometimentos outros que não os da própria situação originadora das dificuldad

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Irreversibilidade

Sempre que acontece o irreversível, acontecem também desejos e atitudes que procuram negá-lo ou modificá-lo. Pensar em modificação do que é vivenciado como irreversível equivale a negá-lo. Esta atitude é resultante da ignorância - do não conhecimento do que ocorre - e de suas variáveis estruturantes, o que implica em distorções perceptivas. Estas distorções parcializam os fenômenos, tanto quanto os ampliam em contextos deles alheios. Vários híbridos surgem, provocando a criação de faz de conta, de ilusão responsável por configurações outras que não as existentes. A impotência, a não aceitação do que acontece é responsável pelos deslocamentos que, procurando negar a irreversibilidade das situações, as aumentam, como as construções existentes apenas no campo do que se deseja, do que se teme, sem bases factuais. Transformar o que se quer ou o que se precisa em factualidade é uma mentira, um faz de conta complicador do enfrentamento de dificuldades. Para manter-se, outras variáveis e

Enigmas e encaixes

O resultado, a vantagem, o uso, tudo definem, validam e significam, esmagando a vida, a felicidade, a descoberta, a perplexidade da inocência que sempre possibilita transcendência, possibilita ampliação de limites, preservação da curiosidade e maravilhamento de estar no mundo com o outro. Lembrei da historieta sobre alguém que diz a Dante Gabriel Rosseti - que estava escrevendo sobre o Santo Graal - “mas, Senhor Rosseti, quando encontrar o Santo Graal, o que vai fazer com ele?” Para a maioria das pessoas a vida se constitui em unir pontos, descobrir trilhas de erros e de acertos, quase o equivalente de um jogo de 7 erros. Descobrir os encaixes, o adequado, o inadequado se constitui em objetivo de suas vidas. Neste propósito sempre encontram ajudas: cartilhas, programas, prospectos e mandamentos de como agir, de como não errar. No afã de sempre acertar, conseguir resultados é a tabela máxima que tudo supervisiona e determina. Resultados diferentes do esperado ou que ex

Caixa-preta - cogitações

Toda situação não globalizada cria linhas de fuga e de aproximação para que se possa perceber suas implicações; é a necessidade de perspectiva que se coloca. São invasões contextualizadas que, buscando ampliar as malhas do entendimento criam pontos cegos, pontos obscuros responsáveis por dicotomização, por divisão. Instalada a quebra da situação surgem necessidades de avaliação, de confrontos para estabelecer garantia de categorização, garantia de decisão. Conflitos, divisões e indecisões decorrem do que não é globalizado, do que não é percebido em sua totalidade. No contexto da ignorância, da não apreensão das variáveis configuradoras dos fenômenos, os valores, intuições, garantias e comparações costumam significar e passam a ser orientadores do que se precisa decidir para agir. São situações onde o popular “ se não sabe o que fazer, não faça nada ” não funciona, pois não fazer nada, não agir é uma atitude, uma decisão. Sacrifícios e heroismos são nutridos nestas situações de co

Transposições, sinestesias, histeria e poesia

Existem situações nas quais todas as variáveis percebidas são polarizadas para um alvo, um objetivo. Na dramaticidade do perigo, a expectativa de ser atacado por um animal feroz, uma cobra venenosa, por exemplo, cria impeditivos imobilizantes. Nestes momentos, o que se enxerga, o que se sente, cheira ou ouve, além do gosto de travo na boca, é referenciado na situação que imobiliza; tudo é polarizado em um ponto que permite transposições e unificações das várias percepções - é a  sinestesia. Voltagens rápidas, tubilhões de acontecimentos, medos, alegrias desenfreadas criam estas percepções unidirecionadas, unilateralizadas, sinestésicas. No pânico, o que se vê, o que se cheira, o que se sente, o gosto amargo na boca, tudo é unilateralizado em função do desbordante, da ultrapassagem dos limites. As vivências são tão intensas que não são suportadas pelos limites e configurações relacionais do que está acontecendo. Certas visões de cemitério, de câmaras de tortura, celas de confiname