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Mostrando postagens de maio, 2016

Empréstimo e insatisfação

Querer ser considerado, querer significar faz com que as pessoas ultrapassem os próprios limites de sua condição social e econômica. Este desejo, sempre realizado à custa de limites ampliados, prefigura o conhecido “ jeitinho ”, a improvisação que se espera que dê certo. Casa de penhores, casa de aluguéis (roupas necessárias às festas que se quer ir, mas não tem as peças exigidas ou pretendidas), empréstimos, pedidos de ajuda a amigos, tudo vale para que se consiga realizar os objetivos de não faltar, não falhar diante de compromissos e oportunidades que se oferecem. Agir fora da própria realidade, dos próprios limites, para marcar presença, para ajudar o outro, é sempre indicativo de metas, culpas ou medos. Os gastos além das próprias condições financeiras, que são feitos pelas famílias para formatura e casamentos dos filhos, por exemplo, são sempre denunciadores de frustrações e compromissos com aparência, considerados vitais. São também investimento, um marco para nova vida do f

Deslocamentos da não aceitação

Durante os deslocamentos da não aceitação podem acontecer situações aparentemente paradoxais, difíceis de serem pensadas como deslocamento graças ao caráter contraditório que apresentam, mas que funcionam como drenos de tensão, de alívio, sendo, portanto, consequentes deslocamentos de conflitos e dificuldades geradas pela não aceitação de problemas. Nas vivências extremas destes deslocamentos, destas não aceitações, a psicoterapia pode ser também configurada como situação de não aceitação. O cliente não aceita ter medos, ter conflitos e dificuldades, fala de seus problemas, mas não aceita ser questionado, não aceita não ser aceito pelo terapeuta. Ao perceber que o terapeuta, através de questionamentos e constatação dos deslocamentos de problemas, mostra que ele cliente não se aceita, enuncia que ele embaralha narrativas e desloca, ele, então, se sente aceito ao ser flagrado, ao ser descoberto nos próprios relatos. Esta vivência de constatação funciona como apoio, ela é também o enc

Injustiça - rigidez na interpretação de regras

Sempre que se resolve aplicar regras sem questionar a propriedade e implicação das mesmas, se comete injustiças. O uso genérico do que é específico causa inadequação: sobra ou falta. Vemos isto em larga e pequena escala, como em situações cotidianas em bibliotecas, por exemplo, onde a regra de não falar alto para manter a tranquilidade do ambiente de estudo pode criar situações conflitivas quando alguém chora ou grita de dor e é apenas em relação ao silêncio perturbado, ao barulho feito, que surge reclamação e até punição da pessoa que, tentando ajudar, grita e faz barulho. É preciso, antes de aplicar as regras, saber o que ocorre e como ocorre. A rigidez penaliza ao unilateralizar configurações. Muitas vezes nem se entende o que aconteceu, não estava previsto nas regras, mas assemelhava-se e decide-se pela punição. Quando isto ocorre, assistimos também injustiça, pois as situações são avaliadas com o objetivo - que já é um comprometimento - de manter regras estabelecidas, sem aval

Frustração

Frustração é o desconcerto vivenciado ao perceber que não conseguiu, ao perceber que perdeu, que falhou na realização de propósitos e desejos. As vivências de frustração são variadas. Frequentemente a frustração resulta de uma expectativa, uma meta, um desejo não realizado, não atendido. Neste sentido ela está sempre estabelecida em um tempo futuro e é causada pelos outros e pelas circunstâncias. Voltada para expectativas, a frustração é muito próxima da decepção, de não ter sido considerado, não ter seus propósitos atendidos e resolvidos.   Às vezes as frustrações aparecem quando se descobre, através de impasses, as impossibilidades de resolver os próprios problemas. Descobrir-se incapaz, impotente e sem condição de resolver os próprios conflitos e dificuldades, causa frustração. Quando as mesmas são percebidas e aceitas, quando são enfrentadas, surgem questionamentos responsáveis por recriar, por mapear todas as trajetórias causadoras do impasse. Estas situações são antíteses,