Resíduos

Apoderando-se de tudo que pode significar lucro e inserção social, as pessoas utilizam conhecimentos, vivências e exploração de outros em tal escala, que de repente o utilizado é apenas resíduo repetitivo de regras, propaganda e incentivo à cidadania cooptada por interesses eleitorais, pseudo democráticos.

Assistir às explicações dadas pelas redes de TV em relação a como proteger a saúde, adquirir cultura e ter participação cidadã, é assistir a uma infinita quantidade de modelos, que quando arrebatados e armados, organizados pela população social, cultural e economicamente carente, cria híbridos de difícil reconhecimento. Surgem coisas novas: regras e clichês passados de um para o outro, onde, por exemplo, o “ter atitude” (copiando frase muito usada em desfiles de moda) é conseguir não manter criatórios dos mosquitos da dengue.

Os resíduos sociais da ignorância das questões médicas, quando assim organizados, são repetidos em função de interesses governamentais e mercadológicos. Muito é apresentado e também apoderado no sentido de ‘como ganhar dinheiro’ ou ‘como salvar a própria vida’, sempre mascarados por discursos de preocupação social, tanto por quem propõe, quanto por quem recebe.

Em sistemas onde vale a maioria, onde vale o quantitativo, o ser humano é transformado em número, em estatística. Fazer diferença é estar no lado que soma, é não cair no desempenho do que resta, do que diminui. Acontece que o resíduo já é um recoletado do que não foi somado, agora lucrativo ao ser cooptado como mais números nas fileiras organizadas em função do que se quer aproveitar, organizar e enganar.

Transformar pessoas em massa de manobra exige, inicialmente, transformá-las em resíduo homogeneizado em função de grandes ideais e campanhas. Trabalhar, estudar, ter a casa própria, conectar-se, ser feliz, se tornam os rótulos do resíduo diariamente coletado pelos que almejam melhor viver. Aprender a viver bem, a ser feliz, a cozinhar, ganhar dinheiro constrói as máquinas que transformam, reciclam e homogeneizam os resíduos gastos e inoperantes; surgem os aptos, capazes de encetar lutas e buscas, onde o desempenho adequado é cumprir as ordens e regras que levam ao sucesso.





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