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Mostrando postagens de novembro, 2015

Rejeitados

Ser sempre desconsiderado, percebido apenas como ocupante de um espaço faz com que o indivíduo aceite não existir significadamente, admita existir apenas em função de demandas, de respostas ao solicitado, ou faz com que construa motivações para ser alguém, para chamar a atenção, para ser considerado, nem que seja por indisciplina e maldade. Ser isolado do mundo, do relacionamento familiar, ou ser julgado inútil, desagradável e prejudicial cria os submissos, tanto quanto os revoltados. É frequente nas famílias de renda abaixo da média e cheias de planos de ascensão social (metas) considerarem os filhos “uma boca à mais, um fardo” e, como tal, desconsiderados enquanto individualidade. Submetidos à diária alegação de como eles precisam retribuir o que foi e é gasto, são cada vez mais exilados do afeto, despersonalizados e programados para mais tarde retribuir tudo que receberam. Agradecer toda a ajuda, o pão cotidiano e correr atrás da meta, da realização é uma constante esvazi

Deslocamentos e pânicos

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A ansiedade se caracteriza pela atividade repetida irrefreável, que vai desde o pensar, repensar, pensar de novo até agir, andar de um lado para o outro, fazer, refazer, antecipar ações, sem saber o que ocorre. Impedindo concentração e contituidade, a ansiedade desestrutura o indivíduo. É exatamente por causa desta desestruturação que ela é bem-vinda, por mais estranha que esta afirmação pareça. Estar ansioso é não perceber as não aceitações, os medos, as culpas e conflitos. Na dinâmica psicológica tudo é globalizado enquanto interação, mas ela não é percebida quando surgem os curto-circuitos, tal como acontece na ansiedade. Deter-se na ansiedade, estar nela posicionado, cria outros deslocamentos, o pânico, por exemplo. Não saber como agir, estar submetido ao turbilhão de dúvidas e demandas, posiciona o indivíduo e neste momento, o pânico aparece. O pânico, como deslocamento da ansiedade, é um ponto de segurança, permite que, se detendo nos sintomas desconfortáveis, incômodos

Especificidade estruturante - personalidade

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Cada ser humano realiza um resumo de todas as variáveis que o estruturam: relação com a família, com a sociedade, a educação, suas vivências, seus comportamentos, medos e desejos, tudo isto é resumido de uma forma específica em cada um. É quase um imperativo, uma necessidade, sempre contingente. O processamento de relações é realizado pelo autorreferenciamento ou pela disponibilidade, ensejando sempre novas configurações e, assim, contextos e atitudes são estruturadas. Uns se caracterizam pelo orgulho, outros aceitam o que lhes é propiciado, outros ainda pagam para ver, desconfiam. Tudo isto constitue o que se poderia chamar de o ponto básico de cada um. Não é uma tendência, tampouco um instinto, é o resultado final de processos que estruturam contextos de valores, de significados que permitem mapas organizadores e sinalizadores. Isto é o que faz com que se saiba com quem se lida, o que atinge ou é indiferente ao outro. Tendo sido educado e aceito para sobreviver, não importa

Apropriação

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Não se aceitando, buscando ser aceito, buscando impressionar, mas sem recursos próprios, o indivíduo apropría-se de vivências, de conhecimentos e histórias alheias para compor uma imagem que signifique dentro de padrões valorizados. Está sempre repetindo opiniões e ações de outros como se fossem suas, falta-lhe autenticidade. Seus esforços direcionam-se a observar para apropriar-se, tudo se transforma em informações a serem acumuladas e utilizadas. Viver amealhando vivências de outros é realizar colagens descontextualizadas, misturas sem consistência, imagens despersonalizadas. Tudo é realizado em função de agradar, de marcar presença, mas, para isto, é preciso esconder e despistar a própria incapacidade, não ser percebido como quem imita e copia, é preciso manter as imagens que garantam o disfarce, que evitem ser descoberto. O processo de apropriação transforma os outros e a si mesmo em objeto, necessariamente levando a enganos, mentiras e violência. A coisificação do humano