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Mostrando postagens de janeiro, 2015

Pensamento - prolongamento da percepção

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“Perceber é estar em relação com o outro, consigo mesmo, com o mundo. Esse relacionamento é a vivência psicológica. Nesse sentido, ao falar em percepção, já não é mais necessário o uso de conceitos como mente, consciência, intelecto, etc, sendo tais conceitos posicionantes, dicotomizantes e unilateralizantes da totalidade ser no mundo.” * O conceito de mente está atrelado à idéia de local da racionalidade, uma visão dualista que contrapõe razão/emoção. Nesta concepção, herdeira das idéias dos séculos XVIII e XIX, a mente é o receptáculo de sensações e a fonte da consciência. Afirmo que o homem é uma possibilidade de relacionamento e que não existem corpo e mente como realidades distintas. É através da relação perceptiva que nos vemos cercados de situações, coisas e pessoas, semelhantes ou dessemelhantes, e assim vão surgindo os significados, os valores que estruturam os níveis de sujeito e objeto. Conhecemos ao perceber. Perceber é conhecer pelos sentidos. ** Ao unifi

Ingenuidade

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Não estabelecer correlações com outras percepções, não realizar continuidade no que está acontecendo, não considerá-lo sinal de situações anteriores ou de situações futuras, é tornar suficiente o percebido. Este se deter no percebido não significa tolice, pouca inteligência ou dificuldade na apreensão de relações. A vivência das situações são suficientes, são percebidas enquanto elas próprias ou são percebidas como significando sinais, indicações, provas do que não é mostrado, do que é apenas insinuado. O pregnante, o denso é o que é privilegiadamente percebido. Quando o pregnante é o pontilhado, é o fragmentado, é o interrompido, seu contexto - fundo estruturante da percepção - é outro. Perceber o que acontece como sinal indicativo de outras percepções, de outros acontecimentos é estar motivado para situações diversas das que estão ocorrendo. Esta confluência de percepções gera constatações (percepção da percepção), frequentemente responsáveis por distorções em relação ao que es

Misantropo

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Misantropia, ou antissociabilidade, ou fobia social, é um dos deslocamentos da não aceitação. Frequentemente, sentindo-se fraco, medroso, incapaz, impossibilitado de se comunicar, o indivíduo se reparte em máscaras e papéis que lhe permitem participar das esferas sociais que o contextualizam. Agindo mecânica e programadamente, esvazia-se. O outro - o ser humano - o horroriza, o apavora e é evitado por ele, desde que o contato o ameaça a sair dos esquemas que criou, desencadeando situações geralmente incontroláveis para si. Imaginar-se sozinho no mundo, senhor de tudo, sem controles exercidos por outros, sem testemunhas, é, tanto seu sonho, quanto sua realidade de fracasso, pois sabe que os outros existem e que sempre o perturbam. No desespero da vivência desta evidência - a existência dos outros, o não estar sozinho - ele busca constatemente negá-los, expressando preconceitos, raivas, ódios, desenvolvendo comportamentos agressivos que podem chegar à violência: matar pessoas, destruir

Rastejamento

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Perde-se autonomia quando se vive em função da realização de desejos e necessidades e isto faz com que o ser humano se transforme, passando a ser o próprio desejo, a própria necessidade. Ao virar objeto de si mesmo, divide-se, quebra a unidade de ser no mundo. Construído pelas circunstâncias, seus critérios são contingentes: existe apenas para o que vai funcionar. Orientado pelo medo, evita o que é ruim, o que causa dor, mas, cria uma dependência, que pode ser útil na luta pela sobrevivência. Suporta as humilhações, rasteja, perde a dignidade, mas se sente bem com os resultados do que almeja: dinheiro, status e segurança, por exemplo. Toda perda de autonomia desumaniza, pois o determinante, o motivador, é qualquer situação ou pessoa que não a própria. Sem autonomia, o indivíduo é apenas uma massa administrada, um resíduo manejado. A atitude de rastejamento, de se humilhar é vista como a única que pode ser adotada, é a menor distância para o que se quer atingir: não opõe contradiç

Comemoração

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Comemorações sempre necessitam de um denominador comum, algo que aglutine, nem que seja a ordenação sistemática dos arquivos estabelecidos pela memória. Nas grandes comemorações coletivas, comemorar é estar direcionado para um mesmo ponto - Natal, início de novo ano, vitórias em campeonatos, etc -, é o polarizante que põe tudo entre parênteses. Pôr entre parênteses - a epoché husserliana - é a maneira de estar totalmente voltado para o que se percebe, sem se perder em nenhuma outra aderência, nenhuma facticidade, sem se perder em nada que fuja do que está sendo enfocado. Esta harmonia, esta unicidade de propósitos, é quase impossível de ser mantida. Rituais que envolvem o sagrado (dos ordálios aos batismos), das sociedades tribais às modernas, se mantêm pela expectativa dos benefícios resultantes de suas realizações. A promessa de ganho e proteção é o polarizante permanente, que acena para a observância e consequentemente, para a preservação coletiva de tais rituais. A f