Propaganda

Ao longo das épocas, o que se buscou através dos reclames do século retrasado, da propaganda do século passado e da mídia atual foi criar motivações, transformando-as em ferramenta de captação necessária para manutenção e ampliação de mercados (capital - economia), de ideologias (política), assim como criação de paraísos alcançáveis pelo sacrifício, esforço e catequese (religião).

Toda vez que a motivação é transformada em vetor, toda vez que ela é desviada para alguma direção alheia aos seus estruturantes, ela é solidificada como instrumento de manobra, perde portanto, a função motivacional - intrinsecamente curiosa, questionante -, virando caminho, trilha para benefício, alívio e satisfação.

Imaginemos se no mundo, nas telinhas e telonas, Facebook, Twitter e outras redes, o que aparecesse fossem questionamentos, toques denunciantes do que se escondeu e arrumou? Em outras palavras, imaginemos se em lugar do melhor perfume, cerveja ou iogurte, tivéssemos embates sobre deslocamentos realizados para esconder frustrações, avisos sobre ilusões e crenças que desumanizam?

Ditaduras e sistemas democráticos coercitivos sempre foram assessorados pelos que entendem e trabalham com o humano - filósofos, psicólogos, cientistas sociais, religiosos -, pois, para que estes sistemas se mantenham funcionando, a motivação tem que ser controlada, direcionada, mesmo que alheia e despersonalizante e vários recursos contribuem para isto, inclusive a serenidade, a criatividade e a sensibilidade.

Controles de motivações - das urnas do voto captado às praças comemorativas - são antigos. O populismo de Getúlio Vargas, nos anos 30, nos construiu como nação feliz, alegre, dedicada ao futebol, carnaval e samba. Estes ingredientes fermentaram e fizeram o grande bolo comido inicialmente pela massa anônima e depois por inúmeros segmentos expressivos e produtores de opinião, pois padrões motivacionais foram apurados e estabelecidos. Alegria e tristeza são pacotes produzidos para atingir e evitar. Tudo é previsível nesta monotonia tediosa e, portanto, cada vez são mais necessárias as novidades, modas e “recreações culturais”, isto é, a reciclagem do resíduo ainda não utilizado … e “assim caminha a humanidade” dentro do que já foi há muito estabelecido: controlar demandas e desejos é necessário para manter a ordem de necessidades e contingências.




  

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