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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

Metas e vacilação

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Só é possível decidir quando se está inteiro. O indivíduo dividido, circunstancializado e dependente de aprovações e resultados, não decide, avalia segundo critérios e valores e ao se resolver por algo - significante positivo em relação ao que quer - estabelece uma contradição com outras situações também significativas para si. O medo de perder, de ser retaliado e outras contrapartidas despersonalizantes, cria dúvidas, tristezas traduzidas por choros, dores e desespero. Decisões fruto de avaliação são facilmente mudadas, são contingências estribadas em valores. Avaliações sobre o que será bom ou será ruim são usadas como pressões para fazer o outro agir conforme interesses. Criar situações funciona como verificadores do exercício do domínio/submissão que estão em jogo. Quanto maior a fragmentação, mais difícil encontrar situações polarizantes. Nada é recomposto por muito tempo. Todo arranjo facilmente se quebra; as dores e incompatibilidades aumentam; consequentemente diminui

Édipo - ações e consequências

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Graças ao viés psicanalítico, a história, o mito de Édipo sempre foi exemplificador do desejo incestuoso, do inesperado, da fatalidade determinada pelo destino, determinada pelo inconsciente. Ao resolver, consciente e criativamente, o grande enígma proposto pela Esfinge, Édipo cai na armadilha do desvendado: caminha para a realização inconsciente de desejos não pressentidos, como diria Freud. O prêmio pela decifração do enígma é casar-se com a rainha Jocasta. O prêmio emoldura a afinidade entre os protagonistas sem destacá-la, mas esta questão não se coloca, é o absurdo conseguido e não são percebidas suas implicações; mais tarde quando isto ocorre, quando Édipo descobre estar casado com sua mãe, ele fura os próprios olhos, se castiga por ter sido cego, não ter visto que Jocasta era sua mãe e assim, consequentemente, assume as decorrências de sua cegueira. Jocasta se suicida. Estes atos trágicos são exemplos de ações consequentes, que em nosso cotidiano são desleixadas, des

Arte

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Adorno dizia que a arte é antissocial. A arte é superestrutura, neste sentido é reflexo da infraestrutura econômica; por ser reflexo não é antissocial, apenas reflete a infraestrutura que a gerou, entretanto, pode possibilitar novas percepções, questionamentos e constatações, pode expressar contradições, pode ser antissocial. Quanto maior a liberdade e a crítica, mais filtrados os componentes infraestruturais. Sociedades reguladas por ditaduras (nazismo, stalinismo, castrismo, macartismo, inquisição, por exemplo) obrigam os criadores a tornarem-se reprodutores das ordens vigentes, reprodutores de suas palavras de ordem e conceitos, facilitadores da dominação. A arte soviética, as edificações nazistas, a beatificação geral do dia a dia são artes que reproduzem as ideologias que as abrigam e engendram e ao existirem assim, negam-se como arte, não são criações, são reproduções. Na arte é necessário ter um não , um diferente, um discordante, não legalizado, não estabelecido. Este dif

Usurpar, plagiar

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Apoderar-se do que é do outro sob a forma de plágio, roubo ou concordância utilizadora é uma maneira desesperada de tentar ser o que não se é, de conseguir um brilho para realce do que se considera fosco, desprezível e inaceitável: a falta de inventividade, a falta de originalidade, o não perder oportunidades de se afirmar e significar positivamente. A não aceitação de si gera metas, desejos e objetivos de ser aceito, de ser considerado, de significar algo para alguém ou para a sociedade. Aceitar o que se considera inaceitável é um caminho de mudança, mas, querer que este inaceitável seja camuflado, escondido através da utilização do que é do outro, é usurpação, é disfarçar as próprias dificuldades e incapacidades. Plagiar, roubar para aparentar, para esconder o que considera incapacidade é um duplo atentado: ao outro e a si mesmo. Na ganância de dinheiro, títulos e conhecimento, as pessoas se fantasiam, mentem, se colocam como capazes/incapazes, se transvestem em líderes